sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O impasse do "bulliyng"




O termo "bullying", de uns tempos pra cá, tornou-se mais conhecido e ganhou proporções generalizadas, pois que o seu siginifcado define a violência psicológica ou física, e repetida, geralmente de um grupo contra um indivíduo. Há até uma campanha apresentada por Sergio Grosman alertando contra a prática. Se a palavra é nova por aqui, a prática é antiga. Certamente você já participou de algumas dessas brincadeiras, considerou-as inocentes na época e até se divertiu com ela e talvez já até as esqueceu . As vítimas, não.

Na escola, os bullies (agressores) fazem brincadeiras de mau gosto, gozações, colocam apelidos pejorativos, difamam, ameaçam, constrangem e menosprezam alguns alunos. Perturbam e intimidam por meio de violência física ou psicológica. Divertem-se à custa do sofrimento alheio.

Foi ao ar um episódio envolvendo a Preta Gil. A própria, irreverente como é, topou participar, riu, jogou torta na cara do repórter. Confessou, antes, que gostava do programa. Chegou a postar convites aos amigos avisando-os da sua participação. On line, vendo o CQC, Preta mudou de humor à medida em que assistia o quadro e, principalmente, se deparava com a "edição" das suas cenas, que registraram as piadas grosseiras sobre seu corpo e sua celulite. Ela se diz vítima de bulliyng.

É difícil opinar sobre o CQC. Gostamos quando espeta políticos ou flagra prefeituras que desviam bens públicos e ficamos com a sensação de "sentir vergonha pelo outro" quando faz um tipo de humor que se assemelha ao bullying. No caso da Preta, o programa deixa suas digitais na apelação.

Na verdade, os fatos cotidianos, a rotina e os acontecimentos divulgados na imprensa sempre foram usados como ingredientes de piadas para os humoristas. O cenário político, principalmente, fornece, quase que diariamente, personagens e histórias aos responsáveis pelo humor em programas de televisão, entre outros meios de comunicação.




Em época de eleição, este “material” fica ainda mais vasto. Mas, a Lei Eleitoral nº 9.504 veda, desde 1997, “usar trucagem, montagem ou outro recurso de áudio ou vídeo que, de qualquer forma, degradem ou ridicularizem candidato, partido político ou coligação”. A norma afeta, assim, programas acostumados a usar esses efeitos.

Os políticos brasileiros estão protegidos por uma legislação absurda e exagerada. É como se os coitados estivessem sofrendo de ‘bullying’ praticado pelos humoristas.

Como forma de protesto a esta medida, humoristas de várias emissoras promoveram uma passeata, apelidada de “Humor sem Censura”, com o propósito de lutar contra qualquer resquício de censura que ainda exista e preservar a liberade de expressão. Os humoristas dizem que essa lei é o exemplo de que, se não ficarem atentos todo o tempo, o fantasma da ditadura pode voltar a nos assombrar.

Censura é o uso pelo estado ou grupo de poder, no sentido de controlar e impedir a liberdade de expressão. Ser contra a publicação de comentários ofensivos e discriminatórios sobre a vida privada de qualquer pessoa, quer seja uma autoridade ou não, é o certo , porém, se a informação refere-se ao comportamento do indivíduo como "pessoa pública", sobre atos cometidos por ela enquanto exerceu seu cargo, é claro que isto não pode ser cerceado, sob pena de ser "Bullying de Estado" (quando uma autoridade usa o Judiciário ou órgãos públicos para calar, intimidar ou perseguir seus desafetos).

A regra impede, portanto, que os programas de humor falem sobre os candidatos até o fim das eleições, caracterizando censura à liberdade de expressão e de imprensa e pondo sobre os holofotes mais vez o tema, já muito debatido. Afinal, será que, mesmo 25 anos após o fim da ditadura, ainda somos uma nação que se diz democrática, mas que no fundo ainda não o é plenamente?

O TSE defende que a medida cuida para que os candidatos recebam tratamento igualitário e que nenhum deles possa sofrer tendo sua imagem divulgada de maneira distorcida e ridicularizada. Para o comediante Helio de la Pena esse é um argumento absurdo: “A impressão que temos é que os candidatos são uns pobres indefesos, vítimas das piadas. Os políticos brasileiros estão protegidos por uma legislação absurda e exagerada.É como se os coitados estivessem sofrendo de bullying praticado pelos comediantes” desabafa o humorista.

O humor tem armas poderosas. Pode ser irônico, sutil, inteligente e surpreendente. Ou infantil, grosseiro, preconceituoso, ofensivo e agressivo. É melhor que deixem que as pessoas decidam por elas mesmas de qual piada devem rir e que deixem também que cada programa, dentro de sua ética, saiba diferenciar os parâmetros da brincadeira com a verdade para os dos insultos ofensivos que possam deixar o outro em estado de bulliyng.

Neste caso, cada um deve saber que o buraco é mais embaixo, sem nenhuma lei autoritária.

Levic